Ser mulher não é fácil. Num mundo em que tudo se quer para ontem, simples, prático, indolor, de fácil assimilação, sem lugar para dúvidas, contestações, interrogações ou crises existenciais; em que a matemática é lei e não abre espaço a outras filosofias ambíguas ou quase que esotéricas, onde os planos ou projetos rebuscados com uma leve tendência para provocar "tilt's" cerebrais não têm lugar, torna-se de facto muito árduo e "suado" ser-se mulher. Porque vestir a pele desta personagem, todos os dias, é contrariar tudo aquilo que o mundo não aceita ou, melhor, não compreende.
E a palavra "esotéricas" não foi ali empregue por engano. Quando falamos em mulheres, falamos num ser quase que sobrenatural, misterioso; ser mulher é quase como pertencer a outro mundo! E toda a gente sabe como é que a Humanidade lida com a presença de seres estranhos à sua existência! (Mal!) -; Somos uma espécie de seita, que prega os mesmos valores estranhos e doutrinas estrambólicas (ou pelo menos assim os classificam!) que mais ninguém pratica ou sequer entende. Estamos habituadas a ver a nossa sensibilidade ser frequentemente confundida com fragilidade. E há muito que aceitamos a elevação do "ser chata" a "verbo" (é uma metáfora, sim?). Um verbo que se conjuga no presente (e a toda a hora!).
E sim, somos realmente chatas. Porque insistimos, persistimos, teimamos, (cinco minutos depois estamos, de novo, a bater na mesma tecla), damos a nossa opinião até à exaustão, batemos o pé com convicção para fazer valer as nossas ideias, lutamos por causas que muitos dão como perdidas, e, por algum dom que nos concederam, temos a plena confiança que a razão mora na maturidade das nossas palavras e na força dos nossos pensamentos materializados em mandamentos! O que o mundo não sabe, é que "ser chata" é o verbo que escolhemos para nós. Se somos chatas convosco, é porque gostamos de vocês, nos preocupamos.
Proprietárias de uma mania exacerbada, todas padecemos do síndroma do "complicómetro". Uma vez accionado, é ver-nos a problematizar temas e hipóteses dignos de teses de doutoramento que ninguém se lembra de redigir! Aliás, não sei como ainda não nos lembramos de seguir uma brilhante carreira no cinema, tal é a nossa vocação para a realização (E que rica e diversificada seria a nossa cinemateca... Ele era drama, ficção, romance,...!). Andamos às voltas em torno de um longo enredo, em vez de seguirmos pelo percurso em linha recta que em dois segundos nos faz chegar onde realmente queremos. Uma simples conversa sobre a ementa do vosso almoço, pode culminar num "foste para a cama com ela!" (vão por mim!). Nós esmiuçamos os mais ínfimos detalhes que já por si são pormenorizados. Pensamos na mesma proporção com que sentimos! E se sentimos com a intensidade que sabem, imaginem a velocidade a que brotam os nossos pensamentos! Ser mulher é ter uma máquina pensante ativa dentro do crânio, para lá das 24 horas que o dia nos oferece, ! É realmente extenuante!
Tudo o que o mundo prefere excluir, nós tomamos a liberdade de adotar como nosso (ou parte de nós). Exatamente porque o "fácil" não conjuga com a nossa natureza! E o mesmo mundo que nos recorda todos os dias aquilo que temos de diferente e, à vezes, de irritante, esquece-se de nos relembrar o quão únicas, cativantes e imprescindíveis, nos tornamos para ele.
Sejamos chatas, complicadas, gordas, magras, baixas, altas, loiras ou morenas... Sejamos médicas, engenheiras, professoras, cantoras, atrizes, empregadas domésticas, desempregadas,... É preciso que, mais do que ninguém, saibamos que somos fortes, capazes e únicas! Nós valemos a pena!
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