Vamos lá falar de pessoas solteiras. Mais concretamente dos trintões desta vida e do peso que isso pode ou não ter nas nossas vidas.
Ser solteira aos 28 (quase 29) é sentir a pressão a bater-nos à porta.
Todos parecem esperar imenso de nós. E a fórmula mágica para uma vida dita comum sempre foi (e continua a ser): formação-emprego-namoro-casamento-filhos (exatamente por esta ordem). E todas as fases parecem ter hora e data estipuladas para acontecerem e que todos devemos cumprir à risca, sob pena de sermos um desvio ao padrão da normalidade.
Já não basta a pressão de vermos o tempo a passar por nós (e de tudo o que isso implica), ainda temos que lidar com a pressão que os outros teimam em descarregar sobre nós. É que mesmo que uma pessoa viva em harmonia com essa condição, parece que numa qualquer realidade paralela estamos a fugir ao fluxo natural da vida ou a infringir uma qualquer regra obrigatória. Mesmo que não pensemos sempre nisso, a sociedade lembra-se de nos recordar a toda a hora dessa condição. Os eventos ou reencontros familiares são sempre aquele momento-chave para este tipo de investidas.
Casamentos, aniversários, batizados,... Há sempre aquela tia que faz questão de perguntar: «Então e namorados?». Às vezes gostava de registar a cara de frustração das pessoas quando ouvem o meu «Não tenho» como resposta.
Já para não falar do discurso clichê que se segue a este momento de pergunta-resposta: «Mas como assim não tens namorado? Uma menina tão bonita. Anda tudo cego!». Sim, porque só estamos solteiros porque ninguém reparou em nós. Aliás, a oferta é muita e homens e mulheres espetaculares é coisa que não falta. (É que nem se põe a hipótese de a pessoa estar convicta do que quer para si e não estar disposta a abrir as portas a qualquer pessoa).
E depois há aquele estúpido mito, que não se sabe bem quem inventou, mas que quase que levamos a sério: ser solteiro depois dos 30 é, no mínimo, sinal de que alguma coisa deu ou está a dar errado e que provavelmente vamos “ficar para tias”… encalhadas a vida toda (um drama!).
Se a essa pressão juntarmos a conspiração do universo contra nós… Bem! É que os convites para jantares, aniversários e noites loucas começam a dar lugar a casamentos, batizados, “baby showers”. Parece que pestanejamos e de repente lembrou-se tudo de dar o nó e produzir bonitos rebentos.
Ali estão, as pessoas do nosso ano de colheita, com um marido, uma casa, um cão e 50 filhos para criar.
Depois há sempre os amigos. Todos sabemos que “os amigos são para as ocasiões”. Portanto, como bons amigos que são, lá estão eles a tentar encontrar solução para esta nossa condição. Carregados de boas intenções lá dão vida àquela veia casamenteira em busca do companheiro perfeito para nós. E é vê-los entusiasmados a atirar nomes para o ar ou a magicar “dates” em segredo. E é incrível a capacidade que alguém pode ter para engendrar o plano mais rebuscado de sempre para juntar alguém. Mesmo que estejamos bem como estamos, eles insistem em achar que precisamos de alguém.
E ser-se solteiro em casamentos (quase) aos 30? Dor de cabeça para os noivos. Como encaixar aquela peça solta?! ‘Bora lá ver onde está aquele amigo solteirão para os juntarmos e nenhum se sentir deslocado. Em caso de não haver amigos solteiros, há sempre a mesa dos “miúdos”. Isso, ou vamos parar à mesa dos amigos do liceu em que somos o único elemento desemparelhado.
E no momento de apanhar o bouquet da noiva? É vê-las empolgadas para ser a próxima. Todas, menos a trintona, que já não se deslumbra. Já atirou o coração muitas vezes à parede, quiçá até já esteve perto de dar o passo…Bem, mas a tradição pede, portanto lá temos que ir – até para não sermos as desmancha-prazeres lá do sítio. E ali estamos nós, do alto dos nossos (quase) 30 a medir forças com outras solteiras dez anos mais novas. Mas de repente, olhamos mais atentamente e percebemos que ali está ela, a tia afastada da noiva, com uns honrosos 45 anos, a fazer figas para que o ramo tenha a mira bem afinada e choque com ela. E é vê-la com aquela expressão de êxtase, como quem torce: «Que seja desta!».
(Eu já apanhei o ramo e não fui a próxima, nem a seguinte, nem a outra a seguir a essa. Já passaram muitos anos e quem estava nesse mesmo casamento já casou primeiro, mesmo tendo sido eu a apanhar o ramo).
Os homens? Esses alaparam o rabo na cadeira, enquanto vão pensando no quanto tudo aquilo é extremamente enfadonho. Isso ou estão bêbados. Há sempre aquele amigo solteiro que faz a festa sozinho e nos faz pensar por que razão fomos contratar uma empresa de animação para o dia.
Tenho para mim que essa coisa de ser solteiro aos trinta não é algo que afete homens e mulheres na mesma medida. Acredito que não seja assim com todos, mas, regra geral, o homem valoriza muito a sua condição de solteiro… o ter espaço e liberdade para viver a eterna adolescência. Pelo menos vivem esse estado até mais tarde. A mulher tem o dito “relógio biológico” e a pressão do tempo. Pelo menos aquelas que sonham ser mães. Começam a ter ambições de compromisso mais cedo, que se fazem acompanhar dos sempre criativos cenários de contos-de-fada.
Mas, se retirarmos toda esse pressão e ansiedade que a sociedade e o medo nos impõem, não há nada que diga que estar solteiro é melhor ou pior do que estar numa relação. Cada um com o seu peso e o seu fado.
(Também sentem que existe esta pressão que, além da sociedade, nós próprios impomos, por vezes?).
Olá Ana! :)
ResponderEliminarOs 30 esse número redondo que parece o bicho papão! :p
Eu acabo de fazer 30 anos mas muito sinceramente não me sinto com esse peso da idade! Já diz a minha santa mãezinha que a vida começa agora aos 30!
Relativamente a ser solteira, bem... não é que o seja de propósito mas realmente começas a ver aquela amiga casar, aquela conhecida que está de bebé, mas também há outras coisas na vida que se não o fizemos aos 20 podemos fazer aos 30, como por exemplo viajaaar, praticar aquele desporto que sempre nos teve em mente para praticar, porque lá está o que eu digo ... a idade está na forma de como encaramos a vida, está-nos na alma e não no nosso calendário Gregoriano (ou solar).
Beijinhos,
Ema Carolina
Concordo contigo, Ema. A verdade é que a pressão existe sempre. Parte de nós saber lidar com ela e contorná-la. E, tal como disseste e bem, é longa a lista de coisas que podemos cumprir enquanto permanecemos nesta "condição". Aprender a ser feliz sozinho e a cuidar (também) de nós, por exemplo, são algumas delas. Obrigada pela visita e espero ver-te mais vezes por cá. Um beijinho
EliminarPara não variar adorei o texto (a forma simples e realista com que escreves e tão bonita ao mesmo tempo 😊)
ResponderEliminarAcho que essa pressão é efectivamente maior para as mulheres do que para os homens e sinceramente acho que (infelizmente) isso nunca vai mudar.
A sociedade devia era entender que nem todas as pessoas têm o sonho de casar e ser mãe (ou pelo menos não agora) e têm outros objectivos e e outros sonhos (que até podem querer realizar antes de dar esse passo) e não há mal nenhum nisso. Por mais clichê que soe o importante é que as pessoas sejam felizes e se estás feliz assim eu fico feliz por ti 😊 um beijinho grande *
P.S. ja tinha saudades dos teus posts 😍
Obrigada, minha querida Ana. És sempre um doce comigo. Obrigada também por insistires em passar por cá, apesar desse jejum de posts. :) Um Beijinho.
EliminarOlá Ana, gostei muito do texto e concordo em absoluto!
ResponderEliminarV.
Muito obrigada :) Agradeço também o feedback!
EliminarApanhei o ramo do casamento da minha irmã com apenas 13 anos, como é óbvio, não fui a próxima a casar, nem a seguinte. Cá estou com 29 anos a espera do esperado pedido.. até lá, tenho de levar ano após ano com a pergunta: "então e o casamento? Já está mais do que na hora.. tanto tempo juntos e não há casório? Os próximos são vocês?".. até lá contínuo quase trintona e solteira.. e boa rapariga :p não morro por isso xD beijinho Ana
ResponderEliminarÉ sempre assim... primeiro exigem o namorado, quando finalmente encontras um, já estão a pedir o casamento e quando casas, logo vem a exigência dos filhos. :) Obrigada pela opinião! :) Um beijinho
EliminarEu adorei o texto! ☺ mas que alivio apesar de seres a minha Melhor Amiga nao me revejo nessa tentativa de arranjar-te namorado à forca, pelo contrario, acho que as coisas tem de surgir naturalmente...e casada ou solteira, o que eu quero é que seja feliz sempre!!
ResponderEliminarQue bom é ter-te por cá! Sempre atenta ao que ando a fazer. És incrível!
EliminarAdorei o texto. Escreves muito bem e és perfeita em muitas coisas. Deves aproveitar todo o teu potencial nas coisas belas que a vida tem. Acredita sempre que quando queremos algo isso acaba por acontecer. Se ainda não aconteceu é porque o teu príncipe ainda se vai cruzar contigo! Vive cada dia sem pressões e sem dar grande importância aos que os outros dizem ou fazem. A felicidade está em tudo que nos faz feliz.
ResponderEliminarParabens Ana. Texto fantastico.
ResponderEliminarP.s. És linda :)
Para quem está nos 29 e solteiro, confesso que quando li 'o ter espaço e liberdade para viver a eterna adolescência' me assenta bem...
ResponderEliminarPara os amigos ainda parece difícil perceber como nem sequer se pensa muito nisso, como se na cabeça de toda a gente existisse uma formatação pré-definida para cada acontecimento na vida apesar de se saber que existe uma ordem mais natural para os passos na vida, mas claro está, dá jeito não ser um robô às vezes.....
Por vezes passa-se por egoísta, mas também há pessoas que não valorizam ter o seu próprio espaço e parece que deixa-se de pensar por si próprio em diversas situações...grandes amizades se pode ir, praticamente, perdendo simplesmente porque na agenda de certos casais só existe espaço para dois e o resto da malta nunca mais os põe a vista em cima....depois quem é o egoísta? Ehehe....
É uma boa visão sobre o assunto, gostei de ler.