Parar é bom...
Por vezes, no turbilhão de cada instante, acabamos por perder ou deixar passar o mais importante. E a beleza está muitas vezes nas coisas que perdemos nesse vaivém... as coisas simples - que achamos que vão estar sempre lá, mas que talvez não estejam. E caio em mim quando dou por mim a parar... a respirar sem horários.
Quando me sinto com tempo fico tão deslumbrada que nem sei por onde começar a aproveitá-lo. Isso acontece, porque, de há uns anos para cá, "ter tempo" tem deixado de fazer parte da minha agenda. Mas raro mesmo é conseguir que essa proeza aconteça logo pela manhã. Por norma, todo o meu despertar, até que me volto a deitar, é de olhos postos no relógio... Um corre-corre desenfreado para estar pronta a tempo de apanhar o primeiro comboio da manhã - que nos últimos tempos apanho sempre muito em cima do joelho.
Esta semana - não sei como - mas consegui a proeza de chegar uns dez minutos antes da hora.
E bem ditos sejam! Foram precisos estes instantes para dar conta de que as árvores junto à estação já brotavam as primeiras flores dando sinais de que a primavera se avizinha.
Todos os dias passo por lá e todos os dias me escapou esse pormenor - se não escapou, estava não centrada na minha rotina que não lhe dei a devida atenção.
Nestes momentos desce sobre mim uma espécie de voz da consciência que me diz que tenho mesmo de abrandar o ritmo se não quiser correr o risco de perder o que de bom há para lá da azáfama. A verdade é que tenho plena noção do que perco, mas acionar o travão não é tão simples assim... Há estilos de vida que não são inteiramente uma escolha, mas antes uma imposição que se ergue e que agarramos até alternativa melhor.
Parar para contemplar nunca é uma perda de tempo (a menos que não se tenha sequer tempo para poder perder).
“The breath of the mind is attention”
(Joseph Joubert)