O "espetáculo" Eusébio


A homenagem a Eusébio, naquela que será sempre uma das suas casas - o Estádio da Luz - foi, sem dúvida, um momento arrepiante e de profundo carinho. Mexeu, certamente, com as emoções de todos, benfiquistas ou não, amantes ou não de futebol. Mas daí a cobrirem na íntegra o enterro do senhor (e friso, na íntegra) parece-me um pouco excessivo. E aqui surge a ténue linha entre o que é de interesse público ou não.
O ser humano é, por natureza, curioso e quer sempre estar em cima do acontecimento. Então nós, portugueses, gostamos sempre de um pouco de "gossip". Compreendo que exista por parte dos meios de comunicação a intenção de levar o máximo de informação possível até às pessoas ou, mais do que isso,... uma intenção de que todas as emoções (estimuladas por este tipo de acontecimentos) possam ser experimentadas por quem está no sofá como se estivessem no próprio local, como se vivessem esse momento. No entanto, não sei até que ponto esta informação-espetáculo não é um verdadeiro atentado àquilo que tenho para mim como "bom-senso". 
A morte do senhor já é, por si só, um acontecimento emotivo. Alimentá-lo desta forma sensacionalista pode não ter qualquer influência em certas pessoas (o que eu duvido), como pode contribuir para efeitos 'colaterais' completamente escusados. As pessoas já andam tão deprimidas, tão sem fé no amanhã, que a imagem de ver alguém ser enterrado (em direto), num dia tão cinzento e chuvoso como o de hoje, não será, com certeza, o melhor elixir para a boa disposição. 
Nem sequer está em questão toda a pompa e circunstância da grandiosa homenagem prestada a Eusébio. Nada disso! Mas a cobertura do enterro feita ao detalhe?! A sério? De repente tínhamos um momento de dor, reflexão e introspecção (um momento que devia ser recatado, íntimo, da família e dos entes mais próximos), completamente violado por câmaras de televisão. 
Nenhuma criança que chega a casa frenética, cheia de novidades e esperança no olhar, depois do seu primeiro dia de aulas do ano, merece dar de caras com uma pessoa dentro de um caixão, suspenso por cordas, a ser enterrada num buraco imenso e, posteriormente coberta por.... lama (sim, depois de toda a chuva que caiu, nem terra era!). É uma imagem real e todos, mais cedo ou mais tarde, temos de ser confrontados com ela, mas enquanto não chega o momento podemos poupar-nos a tal. E falei em crianças, como poderia falar de qualquer outra geração. Não creio que seja fácil para alguém (seja de que idade for) digerir um acontecimento destes, quanto mais com imagens tão elucidativas e detalhadas. 
Sim, sou formada em jornalismo televisivo e até a mim (que sei como se processa a questão das audiências, e a importância das mesmas) me pareceu que foram cometidos alguns excessos e ultrapassados alguns limites éticos (ou o que lhe queiram chamar).

Adeus, "Pantera Negra". RIP, Eusébio da Silva Ferreira.

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