OPINIÃO: As relações e o facebook... um final anunciado?


Como se estar numa relação não desse já dores de cabeça que cheguem...
Tinha de vir o facebook.
E as conversas de serão de miúdas passaram a ser:

"Ah, ele restringiu-me o acesso ao seus álbuns de fotos"
"Ah, não consigo ver algumas informações que ele publica"
"Entra com o teu perfil e vê se tu consegues"
"Ele bloqueou essa informação de todas as minhas amigas, para que não me viessem contar"
"Ele nunca entra no facebook à minha frente"
"Ele fica tão comprometido quando, na brincadeira, ameaço entrar na caixa de mensagens dele do facebook"
"Ele mete «like»/«gosto» nas fotos das outras e nas minhas não"
"Ele passa a vida a adicionar raparigas no facebook"
"Será que é ele que tem a iniciativa de ir falar com elas?"
"Está sempre online no chat do facebook, com quem estará a falar? É que comigo não é de certeza! Nunca fala comigo quando está online."
"Será que ele dá trela a alguém assim em jeito de rotina?"
"Haverá alguém com quem não passa sem falar e eu não sei?"
"Metade das raparigas que fala agora conheceu pelo facebook"
"As últimas miúdas por quem me trocou, conheceu-as pelo facebook"
"Só cumplicidades e confianças com a raparigaX - e nem sempre o termo simpático usado é este - no mural dela"
"A raparigaX vem sempre comentar as fotos dele e com alta confiança. De onde virá tal à vontade?"
"Nicknames fofinhos e assim, ó qui caraças!"
"Ele não coloca que está numa relação comigo"
"Não conheço metade das pessoas com que o meu namorado se relaciona"
"Acreditas que agora que entro no facebook, pareço uma detective à procura do mínimo sinal de infidelidade ou abuso?"
"A minha vida passou a ser: estar de olho na tipa que se vai aproximar dele de forma suspeita, ou pior, estar de olho nele e ver de quem se aproxima descaradamente."

E o vírus da desconfiança ganha proporções absurdas e de repente tudo começa a ter uma segunda intenção: músicas, fotos, frases, tags, ... tudo deixa de ser o que é para passar a ser outra coisa:

"Ui, aquela música... aquela música não é para mim. Repara na letra!"
"Olha a legenda da foto... isto é um código para a raparigaX"
"Esta frase no mural deve vir no seguimento de uma conversa do chat, e a raparigaX foi a primeira a colocar um «gosto»"
"Olha o «*», esta música é definitivamente dedicada a alguém e não é para mim!»
"De onde é que ele conhece aquela rapariga para colocar «gosto» naquela imagem. E porquê naquela em particular?"

E de repente, deixámos de pensar superficialmente nos sinais que surgem para ir mais fundo. Não basta só ver "o crime" temos de perceber por que razão está ali, de onde vem a confiança, e lá iniciámos uma investigação que só terminará até encontrarmos a conexão, mesmo que não exista nada. E lá começa: do perfil dele(a) passamos a analisar o da(o) outra(o), dos amigos, tudo!
Enfim, uma perfeita paranóia que é preciso contrariar ou travar antes que fiquemos loucos.
A coisa complica-se quando a outra pessoa, por si só, não transmite grande confiança, é muito secreta em relação às suas coisas e está distante.
Como se já não fosse difícil confiar.
Como se não fosse já fácil alguém conhecer outras pessoas por quem se pode interessar.
Como se o flirt não fosse já tão fatal e comum.
Tinha de vir esta geringonça para tornar ainda mais fácil o que já era tãaaaao fácil.


Sim, o facebook (e outras redes sociais) facilitou muita coisa - que se provou ser bastante útil -, mas também veio facilitar aquilo que preferíamos que nunca acontecesse. Apesar de todas as suas vantagens o facebook alberga aspetos que o Mark Zuckerberg, provavelmente, não deve ter considerado na altura em que a pensou e que não são de todo benéficos para a nossa sanidade mental. Mas o mal não é de quem inventa as plataformas, mas de quem as usa. A invenção da Internet teve um propósito - melhor coisinha não podiam ter inventado (God bless the Internet!) -, agora a longo prazo foi tendo outras utilidades que que não aquelas para que foi talhada, entenda-se, por exemplo, pornografia infantil, pedofilia entre outros crimes praticados "com" e "contra" o computador. Os instrumentos são criados com uma intenção, não têm culpa que lhes dêem outros usos. Um exemplo muito básico, mas que serve perfeitamente para se entender onde quero chegar, é o das facas, que foram feitas para nos auxiliar na cozinha e em tarefas domésticas e não para ferir pessoas. E, no entanto, muitas pessoas são mortas à facada. Tudo é saudável e ético de acordo com o uso que lhe damos. E infelizmente, no momento de decidir o que fazer com o facebook, nem sempre pesam os valores mais éticos e responsáveis. E não, não é apenas uma questão de imaturidade; não, não acontece só nas camadas mais jovens. Imensos casamentos terminam à custa do facebook (e não só) e outros tantos continuam porque um dos elementos não faz ideia do que anda o parceiro a fazer por mundos virtuais. Já vi mais de mil e um casos de homens casados no flirt com outras mulheres (às vezes miúdas) e não falo de simpatia, falo mesmo de ousadia. Assusta-me tremendamente pensar que, um dia, vou estar a adormecer o meu filho e o meu marido vai estar online a elogiar as maminhas de uma faneca de 18 anos ou a falar-lhe da nossa privacidade e intimidade enquanto casal.


O dito Calcanhar de Aquiles é a falsa confiança, a ilusão. As pessoas iludem-se e acreditam que podem confiar em quem está do outro lado. É criada uma aparente ligação de confiança mútua em que um confia ao outro aspetos negativos das suas respetivas relações (passadas ou não) e a repetição dessa rotina leva a que essa ligação seja alimentada e que as pessoas se acabem por envolver emocionalmente, porque não sabem mais distinguir o real do irreal. E ainda há muita pessoa ingénua por aí, a achar que só por umas conversas virtuais podem descobrir aquela que julgam ser a pessoa da vida delas. Na Internet, ninguém é o que parece, por vezes, e deixar um namoro de cinco anos ou um casamento de 20, por uma aventura, pode correr bem, como pode arruinar as nossas vidas para sempre.


"Ah, ela é muito mais divertida que a minha mulher, muito mais independente e festeira. Não é uma seca, nem uma chata que só resmunga. Não me está sempre a dar na cabeça e é muito mais tranquila". Claro, mas a mulher já o conhece, no seu melhor e no seu pior, e já lida com ele há 20 anos... Aquela pessoa acabou de o conhecer e, muito provavelmente, não engoliria metade dos sapos que a sua mulher engoliu por amor durante tantos anos. Além de que é um dado adquirido que, no início, na fase da conquista, é tudo docinho e cor-de-rosa. Mas aquela pessoa por quem agora se ilude também irá ter ciúmes, também falará mais alto de quando em vez, também se queixará, também o impedirá de fazer coisas, .... Mas as pessoas não entendem e teimam em fazer comparações entre uma súbita atração e um relacionamento de anos. Não que às vezes não estejam certos e tenham encontrado mesmo a pessoa da vida deles, mas existem formas de fazer as coisas, com ponderação e sensatez, mas, sobretudo, com respeito e consideração pelo outro.


Isto para dizer que: são as pessoas que alimentam essas "aproximações" e não o facebook.
Infelizmente esta rede social é, cada vez mais, uma plataforma que nos permite estar ligados ao mundo, literalmente; uma plataforma de trabalho para divulgar e promover e para facilitar o contacto. Por muito que nos queiramos ver livres dela, fica complicado sobretudo quando a divulgação do nosso trabalho, passa por lá, e quando parte da nossa rotina envolve essa mesma plataforma.  E quer queiramos quer não, à parte desses aspetos sentimentais e amorosos, o facebook é útil: no lazer, como forma de evasão, como meio de partilha de ideias e opiniões e como fonte de informação. Sabemos tudo pelo facebook e quando digo tudo... é mesmo tudo. O que se passa no mundo, no país, na nossa cidade, mas também, quem casou com quem, quem acabou com quem, ... quem se chateou e fez as pazes e, até mesmo, o porquê na origem de tudo isso. É assustador não é? Mas o facebook só mostra aquilo que queremos mostrar.
É preciso um pouco de psicologia e bom senso para usar redes sociais. Mas acima de tudo é preciso lembrarmo-nos que existe alguém para além de nós e pensar em como nos sentiríamos se fôssemos nós a sermos confrontados com certas coisas. Devemos tomar a postura que gostávamos que tomassem connosco.

E deixo-vos um vídeo que é uma boa "imagem" desta realidade:



(Este texto foi redigido por mim a 16 de novembro de 2012)

CONVERSATION

2 comentários:

  1. Adorei o post e infelizmente é a realidade.

    beijinho

    theccloset.blogspot.com

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  2. Acabei de ler um artigo que mais parece ter sido escrito por mim!
    Identifico-me a 100% com tudo o que acabei de ler! principalmente nesta parte "Assusta-me tremendamente pensar que, um dia, vou estar a adormecer o meu filho e o meu marido vai estar online a elogiar as maminhas de uma faneca de 18 anos ou a falar-lhe da nossa privacidade e intimidade enquanto casal." e nesta "Não me está sempre a dar na cabeça e é muito mais tranquila". Claro, mas a mulher já o conhece, no seu melhor e no seu pior, e já lida com ele há 20 anos... Aquela pessoa acabou de o conhecer e, muito provavelmente, não engoliria metade dos sapos que a sua mulher engoliu por amor durante tantos anos".

    Infelizmente é como dizes, as redes sociais, os computadores pessoais, os telemóveis, tudo isso veio dificultar a chamada confiança! Hoje em dia é muito mais fácil haver envolvimentos através desses meios e está tudo estragado, mas não podemos pensar assim, apesar disso tudo temos de acreditar que o amor existe e que cada um está com quem quer estar.
    Acredita que tento pensar assim todos os dias! :) Isto porque nos dias que correm, cada vez acho mais dificil manter uma relação durante uma vida, mas não podemos pensar assim, senão não vamos a lado nenhum. Tento pensar que da mesma forma que quero estar com quem estou, essa pessoa sente o mesmo que eu! Só temos de acreditar nisso e não entrar em paranóia quando não existem motivos evidentes :)

    Beijinho e continuação de uma boa escrita! :)

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