Nunca pensei, ponderei ou sequer considerei mudar-me para Lisboa.
Ao contrário de grande parte das pessoas que caminham no mundo da comunicação, não considerava a possibilidade de me mudar de malas e bagagens para a capital. Se acontecesse, tudo bem. Mas se não acontecesse, tudo bem também.
“É lá que moram todas as grandes oportunidades”. Foi isto que escutei toda a vida. E, sim, é de certa forma verdade. Mas também é verdade que nunca o senti assim… Não senti que precisasse de mudar só para ser feliz. Já o era, sempre fui… Tinha no Norte tudo o que precisava para prosperar. Mudar nunca foi uma questão de estatuto, mas sim de estabilidade.
Sempre me disseram que devia arriscar… Pelo menos para ter aquela dita “certeza”. Só vindo para cá podia perceber se podia ou não encontrar “A” chance.
Para uma pessoa que gosta de se desafiar todos os dias e que se cansa facilmente de algo que não a estimula, óbvio que sempre tive aquela ambição de “ir para lá da zona de conforto”. Mas tal não significava que a opção passasse necessariamente por Lisboa.
Riscar Lisboa do mapa começou por ser apenas uma insegurança. Sentia-me demasiado “crua” e sem qualquer preparação para me lançar assim numa cidade (tão) grande, onde aquilo que chega até nós sobre as relações humanas não é propriamente cativante (seja profissionalmente ou a título pessoal) e, por cá, como em qualquer lugar, sempre existiram murmurinhos e aqueles pré-conceitos sobre outras cidades, vivências, pessoas. Corriam histórias e o “diz que disse”. Uns gostavam, outros nem tanto. Eu, na minha redoma, escutava tudo como se de um outro mundo (bem distante) se tratasse.
Para uma pessoa que se alimenta imenso da empatia e das ligações com os outros, sempre senti que seria um pesadelo não me integrar com os ideais ou valores de um sítio que tinha escolhido viver ou trabalhar. Não me imaginava rodeada das ditas pessoas frias, fechadas e sem tempo para olhar para o lado.
Sabia que pessoas com esse perfil iriamos sempre encontrar pelo nosso trajeto, a diferença é que na terra que sempre vimos como “nossa”, temos as nossas pessoas para nos estenderem a mão e nos darem aquele alento precioso, caso algo não esteja a correr como planeado.
Ao longo da faculdade perdi a conta ao número de projetos de colegas e amigos que passavam por uma vida profissional em Lisboa. Comigo não era assim.
Até podia considerar essa “mudança”, mas como na altura tinha o coração amarrado, nunca o tive como opção real. Não era assim tão importante, tendo em conta o que iria arriscar – ainda que isso significasse abdicar, quiçá, de uma carreira de sucesso.
Além dos laços que não queria deixar para trás e do receio de não me adaptar, outra questão levava-me a recuar… Via muita gente a tentar a sorte e a migrar rumo a Lisboa com uma mala cheia de sonhos e a regressar com o peso do fracasso de atrelado.
“Por que razão havia de ser diferente comigo?” – pensei eu, sempre que me debatia com a possibilidade.
A ideia acabou por se dissipar e até de forma tranquila e natural. Mas foi aí, quando deixei de considerar a hipótese como algo real, que ela voltou a bater-me à porta. Formei-me, tirei o mestrado, estagiei pelo Porto e quatro anos mais tarde, algo que começou por ser hipotético, tornou-se bem concreto. De tal forma, que, de forma surpreendente (até para mim) acabei mesmo por mudar. Troquei Gaia por Lisboa. Mudei de cidade e com isso, claro está, mudei também a minha vida. Mal sabia eu, o quão intensa seria essa mudança.
(A foto foi tirada através do snapchat e enviada às minhas amigas. Já contava os dias para estar com elas no fim de semana, depois da primeira semana a viver em Lisboa! Corria, então, o ano de 2015).
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