Paris em estado crítico

Fotografia: Renascença

Nunca uma sexta-feira 13 esteve tão conotada com má sorte. A "mãe" das superstições foi hoje literalmente materializada, fortificando ainda mais todo o simbolismo que sempre circula em seu redor. Um verdadeira "Black Friday", onde palavras como infortúnio, terror e massacre ganham proporções arrebatadoras. Um cenário dantesco que dificilmente consegue deixar alguém indiferente!


Estive praticamente mais de oito horas desligada do mundo noticioso... Sem Internet de dados no telemóvel, estava longe de imaginar as notícias que corriam o twitter e os canais noticiosos internacionais. Aquilo que começou por ser "apenas" um tiroteio rapidamente atingiu proporções hediondas. Sim! São palavras sensacionalistas, fortes e dramáticas as que até aqui empreguei neste desabafo. Mas a verdade é que dificilmente vou conseguir esgotar todos os negros adjetivos que servem para caracterizar este acontecimento - qualquer que sejam, serão com certeza escassos para descrever o que decorreu, esta noite, em Paris. 

Fotografia: Hussein Malla (Fonte: SIC Notícias)

Depois do marcante atentado ao jornal Charlie Hebdo (que não celebrou sequer um ano) e da ameaça de bomba a uma estação de comboios em setembro, França volta a ser atacada no seu coração. Um restaurante, uma sala de espetáculos ("Le Bataclan") e o exterior/redondezas de um estádio de futebol foram os locais a inaugurar esta onda de ataques (sete no total). Alvos meticulosamente definidos com o objetivo claro de instaurar o medo e ampliar tanto quanto possível o impacto dos ataques junto dos cidadãos comuns.

Fotografia: Colonia News em Ação
- Sexta-feira 13, uma data fácil de memorizar e que os responsáveis pelo ataque sabiam que assim iria ser;
- Sexta-feira à noite, que por anteceder o fim-de-semana é uma noite onde habitualmente os franceses saem para se divertir;
- Restaurantes, espaços de diversão noturna e um estádio de futebol onde duas seleções de duas das capitais fortes da Europa (França e Alemanha) se defrontavam num jogo amigável. Locais onde os mesmos responsáveis sabiam que haveria pessoas em massa e onde, por "coincidência" (?), estaria o presidente francês, François Hollande (que assistia ao jogo de futebol);
- Estamos a falar de um número de mortes substancialmente superior ao do ataque à redação do jornal satírico francês e onde o grosso das vítimas mortais (conscientemente premeditado, me parece) são jovens,...

Se isto não é querer causar impacto e fazer valer uma posição, não sei o que é. O simbolismo em cada ataque e os meticulosos detalhes destes atentados tornam verdadeiramente assustador imaginar onde poderão chegar os objetivos de quem os planeia. Mas é isso mesmo que define quem comete estes atos: fazer valer a sua posição lançando o caos. Uma forma de violência psicológica poderosa que se reforça com a brutalidade dos meios pelos quais se faz valer: armas, explosões, tiroteios, bombistas-suicidas,... Meios bélicos que combinados com o ingrediente chave - o "o fator surpresa" - culminam num clima de pânico e insegurança.

Ainda o país não cicatrizou a ferida "Charlie Hebdo" e já tem de digerir um ataque àquilo que é mais intrínseco da sociedade ocidental: os seus hábitos, a sua rotina e a vida pessoal dos seus cidadãos comuns. Sim, porque não foi uma sede militar que foi atacada, nem um edifício político ou religioso preponderante... foram locais do dia-a-dia dos franceses, habitualmente frequentados por civis inocentes!

© Gonzalo Fuentes / Reuters (Fonte: SIC Notícias)

A instabilidade política e a crise económica e financeira existentes em Portugal (que ainda assim abalam de forma determinante as nossas vidas), parecem minúsculas quando olhamos esta realidade de viver em permanente sobressalto, debaixo do fantasma do terrorismo.
Avançam as notícias que, até ao momento cinco terroristas foram neutralizados. Um número insignificante quando olhamos para as 150 vidas inocentes que foram tiradas.
Sexta-feira 13 será, não só para França, mas para toda a humanidade, a noite onde a superstição deixou de o ser e o infortúnio foi bem real.
Auscultando o pulso da cidade não se sente mais do que isto: dor, luto, perplexidade, vulnerabilidade e impotência.
Não é preciso ser médico para fazer o atual diagnótisco do coração francês: Paris, está em estado crítico e com prognóstico reservado. Mas a esperança é de que a recuperação, embora lenta, seja total e faça ver a quem nos derruba que "podemos cair sete vezes e levantar oito"!

CONVERSATION

0 comentários:

Enviar um comentário