CRÓNICA: O valor de uma Oportunidade...

Longe vai o tempo em que ter um canudo na mão era sinónimo de segurança, em que ser doutor, engenheiro ou arquiteto fazia prever um futuro próspero. O mercado está fechado para nós e assim ficam também os sonhos: fechados e estagnados. Quando terminamos os estudos, bate à porta a tão assombrosa necessidade de sermos ousados e dar um ou outro mergulho no mercado de trabalho. Muitos não têm qualquer ideia do que os esperava, mas voam convictos de que, por mais lotado que estivesse, haveria sempre um lugar guardado para nós e que, embora o panorama se pintasse negro, nós seríamos uns das sortudos e iríamos encontrar, num abrir e fechar de olhos, o nosso cantinho à beira-mar plantado. 
Quando findamos os estudos emerge uma sede de trabalho, por vontade, por necessidade e até por dever. Precisamos de saber o que é viver da profissão para a qual nos formamos, sentir nas veias a azáfama do dia-a-dia, ansiar impacientemente pela chegada do fim do mês e ver a nossa conta bancária engordar sem preconceitos. É como se tudo dependesse desta "simples" condição para que tudo possa desabrochar, fluir ou tão somente... acontecer. Mas o país troca-nos as voltas. Ficam planos, projectos... tudo congelado. 
Alguns anos já passaram desde que muitos se formaram e, entre estágios e "biscates" - tudo com prazo de validade -, ainda não provaram a segurança e a estabilidade de ter um vínculo que una harmoniosamente a sua vocação e vontade a uma oportunidade (real, segura e fixa). Vão-se contentado com atividades de um mundo paralelo e completamente distante daquele que traçaram. Trabalhos precários que roçam a exploração. Hoje em dia, marcar a diferença é crucial. E eis que começam a dar por si a pensar o que poderão ter assim de especial que os distinga de tantos que, como eles, aguardam que a sorte mude. E assustam-se. Em tudo o que se envolveram, fizeram-no com dedicação, paixão, empenho... Procuraram dar o melhor de si... Mas será isso o suficiente? É terrível pensar no quão competitivo é o mercado e quantas são as vezes em que dão por eles a perder a crença em si mesmos. "Não sou suficientemente bom", "haverá sempre alguém melhor, com mais perfil, com mais experiência", "não estou a altura", "não vou dar conta do recado", "parece que desaprendi tudo o que sabia até agora". É agoniante perder a confiança, sobretudo quando foi tão árduo conseguir alguma. Ter um trabalho/emprego é importante, não apenas pela realização pessoal. Ter um trabalho é quase como a condição que precisamos para sermos felizes e confiantes. É a garantia de uma oportunidade que alguém nos deu. E muitos de nós o que aguardam é apenas isso: uma oportunidade. É como se a simplicidade de uma oportunidade servisse de alento para o ego, pois é dela que necessitamos para voltar a acreditar que somos capazes, que somos bons e que podemos ser cada vez melhores. Porque a oportunidade pode ser efémera, mas, por mais breve que seja, deixará com certeza marcas... E uma delas será, com certeza, a consciência de que fomos à luta, batalhámos e conquistámos o sabor do amadurecimento pessoal e profissional. Portanto, é a consciencialização de que se conseguimos uma vez, poderemos voltar a repetir a proeza. E é esta a força de uma simples oportunidade: a capacidade que ela tem de nos fazer acreditar em nós mesmos, de acreditar que nenhum recado é maior do que nós, nem nenhuma porta tão intransponível assim. Uma oportunidade significa que alguém, para além de nós próprios, acreditou nas nossas capacidades ou que alguém viu em nós mais do que um papel... Significa, pois, que não nos enganámos e que, de facto, todos temos algo de novo para dar a este mundo. Cada um de nós é, à sua maneira, transcendente e especial. Mas nós sabemos disso... só queremos apenas que alguém, como nós, o reconheça.

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