Quando perdemos alguém para a morte

White backless gown. I like the idea of "bridal portraits" in something other than your wedding day dress. #bridesmaidescape

A morte de Manuel Forjaz fez-me repensar, uma vez mais, o quanto andamos distraídos da vida. Acredito que muitos de nós a quisessem apreciar. A verdade é que nem sempre temos essa tarefa facilitada. Faço uma vénia à atitude guerreira deste senhor perante a doença. Existem muitos "Manuel Forjaz" espalhados por esse mundo. A sua maior exposição pública permitiu-lhe deixar uma mensagem de força para todos aqueles que atravessam ou poderão atravessar um período idêntico ao seu, num percurso de convivência iminente com a morte. 
Desdramatizar os problemas, as adversidades, a morte. Aceitá-las como algo natural, que acontece porque sim. Desfrutar da vida, independentemente dos bons e maus momentos, como se todos fossem algodão-doce para as nossas pupilas gostativas. Foi isto que Manuel Forjaz quis passar. porque nada nos mata sem que nos deixemos. Nós morremos "de". Não podemos permitir que a nossa condição menos boa, nos impeça de viver - já basta o que de negativo nos foi imposto, não precisamos que o nosso espírito se vire também ele contra nós. Esta foi, no fundo, a sua mensagem. E tiro o chapéu a quem desta forma consegue "brincar" na adversidade. Sei que temos forças que desconhecemos, mas sou realista e sei o quanto é árdua a tarefa do positivismo e da fé perante o abismo. E é sempre "mais óbvio" (e até mais fácil) deixarmo-nos absorver pela nossa desgraça e deprimir.

Há uns tempos escrevi este "desabafo" que volto agora a deixar aqui:


Perder alguém para a morte é como que ganhar uma oportunidade de olhar para dentro e fazer uma reflexão sobre tudo o que andamos a fazer. É a rampa que nos lança para a consciencialização de que nada é eterno, nem nós. É a circunstância que nos leva a parar e questionar  se vale realmente a pena perder tempo, essa coisa tão rara, com idiotices, orgulho, mágoa, rancor, revolta, frustrações, vingança.
Não escolhemos os desígnios que nos são traçados muito menos compreendemos a sua complexidade. Podemos chorar, sofrer,... Revoltar-nos pela nossa estranha felicidade e exigir melhor. Levantar a voz para as injustiças que se abatem sobre nós e bater o pé caprichosamente. Podemos dormir o dia todo, para esquecer que há uma vida lá fora que corre sem nós. Podemos mergulhar na depressão, ter pena da nossa sina, lamentar. Temos esse direito. Somos humanos e vivemos pé ante pé sobre pólos opostos. O outro lado da moeda existe. E é este... o lado fraco, dominado pelo cansaço de viver. Mas quando perdemos alguém para a morte, em tenra idade (não só, mas principalmente), olhamos a vida com o juízo que perdemos para a angústia. Olhamos para trás e vemos que nada do que lá está pode ser mudado... Levamos a vida demasiado a sério, não conseguimos virar costas às preocupações, dar um chuto às desilusões... e o nosso corpo ressente-se. Trânsito, prazos a cumprir, contas a pagar, encargos inadiáveis, responsabilidades, sonhos adiados, ambições falhadas, horas árduas de trabalho, noites a dever à cama, refeições pela metade, vícios... stress, ansiedade, tensão, pressão... Uma atmosfera doentia que nos rouba o direito de viver em pleno.  Uma vida diária a 250 Km/h numa estrada repleta de curvas e contracurvas. Vivemos distraídos, absorvidos na nossa triste condição, demasiado ocupados para olhar em redor e desfrutar de tudo e todos. Levamos o corpo à exaustão,... massacramos a cada dia essa máquina que é o coração. 

my own declaration of dependence

Um dia tudo pára. A felicidade chega, mas não temos mais tempo para a agarrar. O nosso tempo passou. Quando perdemos alguém para a morte, debatemos a insignificância da nossa existência e só aí aprendemos a valorizá-la. Já perdemos tanto tempo, sem perceber. 
Aquele abraço que ficou por dar, aquela discussão à hora de almoço, aquele temperamento explosivo que tivemos, aquela palavra mais ingrata, aquela chamada que não fizemos, a oportunidade que não demos, o beijo rotineiro de bom dia/boa noite que descuramos... Nunca nos lembramos que amanhã pode ser tarde demais e que isto foi tudo o que soubemos fazer.
A vida é efémera, como vamos querer vivê-la?!
Se pudesse cruzava os dedos e pedia com toda a força, que todos tivéssemos o privilégio de deixar as sombras e a escuridão em que nos envolvemos, para ver mais vezes o sol brilhar e assim poder desfrutar com outra leveza esta vida... tão bonita, mas tão cruel, que nos faz cair de amores por ela, para depois nos largar da mão... para a morte. 
Gostava de pedir que fôssemos felizes, mas sei que não é assim tão límpido como água.

Water rests the soul.....

Fica a mensagem de Manuel Forjaz:


«Lembrar que estarei morto logo é a ferramenta mais importante que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida. Porque quase tudo – todas as expectativas externas, todo orgulho, todo medo de falhar ou vergonha – essas coisas caem por terra ao encararem a morte, deixando apenas o que é realmente importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que encontrei para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração

(Steve Jobs)

CONVERSATION

2 comentários:

  1. Que bonito post ♥
    Que a partida do Manuel e de todos os que nos deixaram até agora nos lembrem sempre o que deveríamos andar por cá a fazer...
    Beijinho Ana *

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    1. Muito obrigada, Anita! E que bom ter os teus comentários também neste blog :)
      Às vezes precisamos destes exemplos (e de outros) para inspirarem a nossa jornada e para nos fazer olhar aquele lado da moeda que por vezes passa despercebido!

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